terça-feira, 14 de fevereiro de 2017

O Sete Orelhas

Num tempo em que Minas era capitania e a Justiça estava a léguas de distância dos arraiais – quando estava! –, o bárbaro assassinato de um fazendeiro desencadeou a morte igualmente sangrenta de sete irmãos. Amarrado a uma figueira, João Garcia Leal, de 43 anos, foi despelado vivo, sem a menor chance de defesa, depois da disputa com um vizinho pela demarcação de terras. Sedento de vingança e sem apoio das autoridades coloniais, o irmão da vítima, Januário Garcia Leal (1761 –1808), considerado um homem bom e trabalhador, jurou vingança.
Dá-se início a uma caçada que durou por volta de 30 anos (entre 1760 e 1790 talvez). Januário perseguiu os irmãos pela província e matou-os: logo de início dois na própria região; depois outros dois na Bagagem (atual Estrela do Sul, no triângulo mineiro), um em uma estalagem próxima ao rio São Francisco, outro em Diamantina, e outro no caminho de Vila Rica para a Bahia. Esse longo tempo é compreendido pelas próprias dificuldades de locomoção na época.
A cada irmão que matava, Januário tirava uma das orelhas da vítima, e a enfiava em um cordão, que, ao final deste tempo, foi colocado em um dos ramos da figueira.
Em 1799, Januário estabeleceu-se nas terras da futura Alpinópolis. Sete anos depois, sua esposa informa que o marido, já desaparecido há 3 anos, deixou determinado que vendesse as terras para pagar dívidas com os primos, contraídas ainda em 1802.
Segundo o escritor Gustavo Barroso, que por sua vez se valeu de fontes orais, Januário teria morrido em decorrência de um acidente na porteira de sua fazenda.

Fonte: Estado de Minas. Recanto das Letras.

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